Quando deitado,
Seu corpo deitado
Dorme sossegado!
Quando acordado
Fica sobressaltado,
Só com amor saciado!
Quando levantado,
Seu corpo vestido,
Garrido,
Passeia pelos quartos,
Pelo corredor,
Pela cozinha.
Eu sempre atrás de meu amor
Para dele comer qualquer coisinha.
Depois vemos televisão,
Mão na mão!
Pois então
Onde deveria?
Fica para outro dia.
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar
Fios de seda bordam cestos de desejos
pombos rasam superfícies
desejos emergem
são agarrados
e levados pelos ares da montanha
da planície!
Os que ficam
na borda do cesto,
presos aos fios de seda,
esperam que alguém os quebre e os leve.
Os fios de seda podem ficar no cesto
a baloiçar,
porém,
os desejos devem sempre voar.
Não matem os pombos
mas destruam o pombal;
o cesto,
para que os sonhos não tenham regresso
e andem sempre a voar!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar
A busca
Muitas vezes me perco,
Muito tempo me procuro,
E nunca sei o sítio certo:
Se no claro ou no escuro!
Tempo de procura que gasto
É sempre um tempo perdido,
Pois nunca encontro o rasto
Do eu, de mim desaparecido!
E à noite, quando me deito,
Eu durmo, tranquilamente!
Com meu eu fora do leito!
Quando surge um novo raiar,
A nova claridade me encanta
Para continuar a me procuar!
Há gente que já sabe quem é
Eu ainda não sei o que sou
Continuo a me procurar, a pé,
Passo a passo longe eu vou!
No final, quando me encontrar,
Será um outro a me procurar!
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Autor: Silvino T. M.Figueiredo
(figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar
Anverso:
MARCADOR
Isto
É um marcador
Dum livro
Sempre contigo
Que o andas
A ler
Aos poucos
Sê tu também
Um livro
E deixa-te ler
Por outros
Aguarda que
O marcador pare
Na página do amor
Depois
Pousa o livro
Na mesinha
De cabeceira
E que teu leitor
Leia amor
No teu corpo
A noite inteira
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Silvino Figueiredo
(figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar
Se alguém
Te disser
Que te amou
Demasiado
Não queiras
O excesso devolver
Guarda-o
No cofre da saudade
Para ser recordado
Para te ajudar a viver
E no meio dos teus ais
Lembra-te que
Ninguém ama demais.
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Silvino Figueiredo
(figas de saint pierre)
Gondomar
A chuva é um mar em paraquedas
Cada pingo um rio
A chuva molha, molha,
Mas ao mar molhado regressa,
Onde navegam navios
E barcos de pesca
E se os os mares,
Em chuva,
Se espraiam pelo chão,
Quando se retiram
Nas praias da terra
Há chuva de pão!
Deixai a chuva cair
Ela faz a terra sorrir
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar
UM NOVEMBRO QUALQUER
Não
Não me lembro dum Novembro qualquer
Lembro-me de cálidas tardes
Mas de nenhum Novembro anormal
Lembro-me sim
Que Novembro é estrada
De folhas atapetada
Que nos leva ao Natal
E que Novembro é tempo especial
Da castanha assada
De provas de vinho
Do esplendor do azevinho
No tempo de Outono
Que em si tem Novembro
Mas que de nenhum me lembro
A não ser dizer que
Meu tempo não é o que era
E que o Outono já de mim é dono
Não mais a Primavera
Em qualquer Novembro
Que possa viver
Na vida
Até ser folha de árvore caída
Para qualquer estrada atapetar
Num Novembro qualquer
Sinal
De que o Natal está a chegar.
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)
Gondomar
A pele dos dedos
Que a pena segura
Não é a mesma de quando menino
É mais escura
Mais dura
Porque muda e em mim passa
Mas quando se renova é a prova
De que é mais um engano
Que de mim faz carcassa
Com mais rugas em cada ano
E as rugas tornam-se escrita
De saudades do menino
Com sua vida ainda nova
Que queria ser grande
Mais velho
Mas agora
Queria ter a pele nova
Como estava
Quando na pele da mãe mamava
Embora não tivesse a pena
Que agora tem
Para escrever
Em poema
As saudades de quando mamava na pele da mãe
Agora
Por fora com a pele mais dura
Mas por dentro ainda de menino
Quase que fujo do sol
Para tomar banhos de luar
E do seu rol
E imaginar minha mãe a dar-me banho
Para a pele limpar
E amaciar agora esta pele de rugas
Leitos de rios
Onde correm saudades
De ternuras quentes
Nestes tempo duros
Frios
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar
. Costa: