Que tão largo oceano nos separa,
que não compreendo
o porquê de me sentir tão perto
sentindo esta brisa na cara!
Numa terra,
lá longe,
neva!
aqui faz sol!
Numa trabalha-se!
Noutra dança-se!
Entre elas a líquida imensidão,
como um deserto!
Duma veio a procura!
Noutra mora a esperança!
De frente para o mar;
líquida imensidão,
como um deserto!
ao atravessá-lo
horas ansiosas vivi,
não compreendendo a imensidão
do oceno que nos separa
e o porquê de me sentir tão perto!
Se estou do lado de cá é
como se "istivesse do ládo di lá"!
Brasil e Portugal estão já ali;
sempre perto do coração!
Um ao outro se chama de irmão!
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Autor: Silvino Figueiredo
Gondomar
A Natureza expulsou-me dum ventre e
deu-me vida como sorte, mas
a Natureza, lentamente,
vai-me empurrando prá morte,
depois, meu corpo,
de vida não mais dono, será
como folha; filha de Outono e,
como de costume, será apenas estrume,
que novamente dará vida,
dum ventre, novamente, saída!
É a vida!"
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Autor deste original inédito:
Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de
Formosas são as palavras!
Formosas são as palavras;
Sons por lábios burilados,
Meiguices ou duras clavas
Quando são pronunciados.
Palavras leva-as o vento,
Vão em todas as direcções,
São d’amor contentamento
Se presas nos corações!
Palavras, palavras são
Escritas de muitos actos
Duma qualquer relação,
E esperam no imediato
A passagem à acção
Para seu efeito prático.
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Autor:
Silvino. T. M. Figueiredo
Gondomar
TRAÇOS CHATOS
Um traço
Linha do horizonte
Montanhas
Altares
Vales e abismos
Oceanos
Espelhos mágicos
Fundos trágicos
Desertos apáticos
Camelos circundantes
Corridas de fórmula um
Festas
Foguetes
Pum pum pum
Espectáculos
Clap clap clap clap clap
Muitas palmas
Que bom um arroz de pato
E o coachar do sapo
O mundo é do forte
O fraco escuta o coachar do sapo
É poesia
Mas é chato
Chato
Ao longe
Ouve-se alguém
A rezar a oração
Da encomendação das almas
É chato
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
figariano@sapo.pt
DR/SPA Nº 15727
figas de saint pierre de lá-buraque
Gondomar-PORTUGAL
PALMAS
Dia dos fiéis
Recordações dos mortos
Campas cheias de flores
Mortos-vivos absortos
Em frescas dores
Ouve-se tristes lengas-lengas no ar
Como se prendas
Para as almas no seu arengar
Mas
Entendo eu
Se as almas já estão no céu
Então
Porque não lhes bater palmas?!
Clap clap clap.
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
figas de saint pierre de lá-buraque
figariano@sapo.pt
DR/SPA nº 15727
Gondomar-PORTUGAL
GOSTO DO MAR
Gosto do mar
Por que será que gosto do Mar?
Gosto de suas ondas a baterem na praia
Da sua fragrância em cambrais de espuma
Gosto de seu nevoeiro e nublosa bruma
Gosto do seu bramar
Da sua obediência à Lua
Por que será que eu gosto do mar
Sei que o Mar dá alegria
Dá dor
Dá mágoa
Mas por que será que eu gosto tanto do mar
Já descobri
Eu dele faço parte
Sou setenta por cento de água
Também obedeço à Lua
Meu amor tem uma
Também obedeço à sua
Meu amor é de luas
Mas eu gosto tanto do mar
Que quando estou em maré vaza
Finjo uma praia ser
Que o meu amor
de amor alaga
Com seu mar no seu encher
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
figas de saint pierre de lá-buraque
figariano@sapo.pt
DR/SPA nº 15727
ANTES ERA O VERBO
Era uma vez.
Naquele tempo.
Antes era o verbo.
É assim o intróito a muitas estórias,
Muito mal contadas.
A que eu mais gosto é da:
-"Antes era o verbo"
Pessoalmente,
Não sei qual a sua conjugação.
Eu,
Por exemplo
Não me sei conjugar!
Talvez,
Se eu fosse mulher
Fosse um verbo de encher
Como homem, não,
Estou sempre a esvaziar-me
Mas ando a ficar cansado para continuar!
Qual o meu verbo?
O de encher ou o de esvaziar?!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
figariano@sapo.pt
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DR/SPA nº 15727
Gondomar-PORTUGAL
VELADA
O dia finou-se
Estive no seu velório
Vi velas da madrugada
As estrelas a alumiar
A chorar
De suas lágrimas fiz um chá para me aquecer
Depois a noite foi a enterrar
Devagar
No novo dia que acabou por nascer
Baptizado com esperança de bem viver
E quando acabar por se finar
Que tenha estrelas a alumiar
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
figariano@sapo.pt
figas de saint pierre de lá-buraque
DR/SPA nº 15727
Gondomar-PORTUGAL
FILHOS
Quem tem filhos,
Ainda rosas em botão,
Sente-os como atilhos
Que atam seu coração!
Filhos,
Afluentes de sentimentos
Do leito do rio de seus pais,
Que,
Por vezes,
Se enche de tormentos,
Em cheias de grandes ais
E de grande aflição!
Mas,
Os filhos são do amor a maior inundação!
Sem filhos a vida é um deserto!
Sem filhos,
Sem crianças,
O Futuro nunca estará de esperanças.
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Autor deste original inédito:
Silvino Taveira Machado Figueiredo
figariano@sapo.pt
(o figas de saint pierre de lá-buraque)
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